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O que perdemos com a idade adulta?

  • Foto do escritor: Rosangela Bertuol
    Rosangela Bertuol
  • 21 de abr. de 2020
  • 2 min de leitura

Quem já teve a oportunidade de ler o Pequeno Príncipe, obra literária do escritor francês Antoine de Saint-Exupéry, certamente vai se conectar com algumas impressões aqui rabiscadas.


Vivo com a impressão de que fomos todos expulsos da infância, como se nos proibissem a demora num segredo que propende para uma alegria genuína. A idade adulta tende a ser um modo de nos negarmos. Com tanta maturação e terapia, o mais que fazemos é criar afastamento daquela espontaneidade primeira através da qual reagíamos ao mundo numa franca celebração ou numa franca mágoa. Essa fraqueza sobra muito pouco ao longo dos anos, tirando-nos genuidade e confiança. Somos produto da consciência, tantas vezes de uma péssima consciência, mais do que da liberdade entusiasta da vida.


Não tenho dúvida de que os melhores adultos são os que persistem auscultando essa porta perdida para a liberdade poderosa da infância. Os que sabem acionar essa criança à qual se sobrepôs o resto da vida.


Poucas mágicas apoiam aqueles que recusam o primeiro sonho, o mais límpido. Acredito que a maternidadade e a paternidade, pelo lado da natureza, deveriam favorecer essa lucidez, uma rememória que se explana através dos filhos e solicita o mais profundo encanto de cada um. De outro modo, pelo lado da cultura, julgo que sobretudo alguns livros nos propõem uma mágica semelhante, assim como "O Pequeno Príncipe".


O que o leitor leva em mãos não tem preço. O dinheiro relativo a uma obra assim são abraços e beijos, cuidados e um calor no peito, como se pairassem bandos ternos de pássaros pelas artérias. Este livro é medicamento e precisa ser vendido também nas farmácias e há que ser receitado pelos médicos mais responsáveis. Trata de quase todas as doenças, porque trata da estrutura mais inevitável da vida: os outros. Este livro é sobre os amigos, e a sensação que nos dá é a de ser já um amigo.


Que magnífico talento teve o escritor em intrometer nas palavras a ilusão de haver gente. Eu vejo os livros como alguém, por isso tenho em casa um tanto deles. E há parte da sensibilidade humana que só se apura assim, lendo. Ler é fazer família, muitas vezes a única família que alguém pode ter.


O "Pequeno Príncipe" é um dos meus parentes mais antigos. Esperava já por mim antes de eu nascer, mas esperava certeiro. Sabia que nos encontraríamos com alegria e intimidade. Nunca mais poderia partir.


Entre os melhores livros, porque na contabilidade das leituras sobressai a parcela do que nos melhora como pessoas está a aventura vivida nele. Fulgurante imaginação, profunda sensibilidade. Não é para crianças, é para pessoas. Não tem como nos deixar dizer respeito. É vigente para cada dia das nossas vidas. Para cada dia da vida de toda a gente.

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