A IMPORTÂNCIA DA CONFIANÇA EM UMA ORGANIZAÇÃO
- Rosangela Bertuol
- 21 de jul. de 2020
- 4 min de leitura
Em razão de diversas questões éticas, sociais e políticas vividas no Brasil nos últimos anos, a confiança vem sendo um dos temas que com grande frequência aparece nas discussões, no âmbito dos relacionamentos conjugais, nos grupos de amigos ou em ambientes de trabalho. Mas o que é confiança e qual a relevância dela nas organizações?
A confiança exerce um papel central nos relacionamentos; a sua falta dificulta o estabelecimento de compromisso entre as pessoas, já que acordos formais já não são suficientes para assegurar que ela não será violada.
Nas organizações a sua falta impacta negativamente a perenidade dos relacionamentos, desgasta a eficiência da comunicação e resulta em sentimento de incerteza, desestímulo e insegurança.
Como já abordei no artigo “PESSOAl(mente) Líder” (link ao final), a confiança assume um papel de grande importância no relacionamento entre líder e liderado. Líderes que possuem a habilidade de gerar um ambiente de alta confiança com os seus liderados, certamente possuirão um nível maior de engajamento, e consequentemente uma maior performance da equipe.
De acordo com um estudo realizado por Paul J. Zak, em 2017, estimular uma cultura de confiança nas empresas é a forma mais eficaz de combater o baixo envolvimento dos empregados, aumentar a produtividade e a colaboração, além de cultivar uma força de trabalho mais feliz e leal.
O estudo mostra ainda o impacto que a confiança produz em alguns indicadores organizacionais, de modo que o alto grau de confiança resulta em:
106% mais energia no trabalho;
74% menos stress;
76% mais engajamento;
50% mais produtividade;
29% mais satisfação pessoal;
40% menos burnout;
13% menos dias de afastamento.
A questão é, como estimular essa cultura de confiança nas organizações?
A percepção que trago do mundo corporativo é a de que a confiança está relacionada com a forma em que o colaborador percebe o seu líder nos seguintes fatores: como ele avalia a comunicação, como considera a qualidade do relacionamento, quão estimulado ele é para desenvolver tarefas desafiadoras e o quanto é reconhecido e valorizado.
Paul J. Zak sugere algumas ações para os líderes estabelecerem uma relação de confiança e que corroboram com as percepções que trago da minha vivência no ambiente organizacional. São elas:
- Reconhecer a excelência: o líder deve reconhecer a excelência dos seus liderados. A neurociência mostra que o reconhecimento tem maior efeito sobre a confiança quando ocorre imediatamente depois que um objetivo foi atingido, quando vem dos pares, quando é tangível, inesperado, pessoal e público.
- Transparência na comunicação: apenas 40% dos colaboradores pesquisados relatam que estão bem informados sobre os objetivos e estratégias da empresa. A incerteza sobre o rumo da organização, além de outras questões, pode levar ao estresse crônico, que gera enorme insatisfação e prejudica o trabalho em equipe, resultando baixa produtividade.
- Construir bons relacionamentos: experiências da neurociência apontam que quando as pessoas constroem laços sociais no trabalho o seu desempenho melhora.
- Autonomia: uma vez que os colaboradores têm conhecimento e competências adequadas para a função é importante, desde que possível, permitir-lhes gerenciar pessoas e executar projetos, sem o microgerenciamento do líder.
Uma pesquisa realizada pelo Citigroup e Linkedin demonstra que quase metade dos colaboradores abriram mão de 20% do seu salário por mais autonomia.
- Pedir ajuda: Pedir ajuda é um sinal de um líder seguro, que confia na equipe e envolve as pessoas a alcançarem os objetivos organizacionais.
Além desses fatores, sugiro uma comunicação aberta, honesta e íntegra, para que a confiança flua livremente entre líderes e liderados.
O senso de confiança traz resultados excepcionais a uma organização, desde que ela não seja uma norma a ser seguida e sim vivenciada, pois a confiança é um sentimento, que não decorre de eu dizer para você “confie em mim”, e pronto. Não é assim que funciona, pois, a confiança precisa ser construída no dia a dia, e isso leva em conta as condições criadas dentro da organização, a cultura e a maneira de liderar.
Quando um líder toma a decisão de colocar a segurança e a vida dos empregados em primeiro lugar, sacrifica o conforto da sua posição e não coloca a sua frente somente os resultados tangíveis, o sentimento de confiança floresce e naturalmente os talentos e as forças de cada pessoa ganham destaque, gerando engajamento para conquistar objetivos, enfrentar desafios e aproveitar oportunidades.
A melhor analogia que pode ser feita para que um grande líder conquiste a confiança de seus liderados, é a de um pai. O que é ser um bom pai, o que ele faz? Os pais querem dar oportunidades aos seus filhos, educação, disciplina, condições para que possam crescer e alcançar seus sonhos e irem além do que os pais conseguiram. Grandes líderes devem querer as mesmas coisas, ou seja, dar oportunidades, condições para seus liderados se desenvolverem e crescerem, aumentar sua autoconfiança, dar liberdade e autonomia de tentar e falhar, para que possam voar longe, para além do que imaginariam.
Um pai que passa por dificuldades no âmbito familiar, jamais vai considerar mandar embora um de seus filhos. Então, por que as empresas fazem isso, e consideram demitir pessoas diante dos primeiros sinais de dificuldades?
Charlie Kim, CEO de uma grande empresa de tecnologia chamada Next Jump, implementou uma política de emprego vitalício. Os empregados desta empresa jamais serão demitidos por baixo desempenho. Se tiverem problemas, eles vão lhes dar treinamento, apoio, suporte, assim como um pai faria a um filho caso ele tivesse uma nota baixa na escola.
Deste modo podemos concluir que, uma empresa que constrói a sua cultura baseada na confiança, não como algo imposto, e sim como um valor vivenciado de forma genuína, cultiva um ambiente de trabalho mais estável, onde as pessoas trabalham engajadas, consciente da importância do seu papel para o alcance dos resultados da organização, da sustentabilidade e longevidade do negócio.
Dicas sobre o tema:
- The Neuroscience of Trust – by Paul J. Zak – 2017, Harvard Business Review.
- Simon Sinek: Por que bons líderes fazem você se sentir seguro (https://www.youtube.com/watch?v=lmyZMtPVodo&t=398s)

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